quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Começando 2008.

Sim, comunicação é um problema.
Não vou dizer que a falta dela, porque acho que excesso também não ajuda.
O problema não são apenas as pessoas que não falam umas com as outras, mas sim o fato de não sabarem falar. Ainda que se utilize o mesmo idioma, não há garantia de que a mensagem será devidamente interpretada pelo receptor. O que pensamos e o que falamos nem sempre são o mesmo, estejamos sóbrios ou não. Não lembro números agora (nunca lembro), mas uma pesquisa determinou a média de mentiras contadas por uma pessoa ao longo do dia. Não apenas mentiras com intuito de enganar, mas às vezes são pequenas inverdades. A boca muitas vezes pode mentir em relação ao que se passa na mente. A boca às vezes age mais rápido do que a tentativa de organizar os pensamentos, e a informação exteriorizada pode ser inexata, não propriamente uma mentira, mas também não uma verdade. Tento não deixar que o mesmo aconteça com meus dedos, apago, reescrevo, reestruturo, repenso, releio. Sei que está tudo uma bagunça, mas a comunicação é mais interna do que qualquer outra coisa.
Nem sei bem porque escrevo agora. Sei que foi influenciado pelo filme que acabei de ver, mas ainda não sei porque escrevo. Não espero mais que as pessoas leiam, e nunca esperei que elas entendessem o que deixo que leiam.
É o primeiro dia de 2008. Foi um dia tão lento quanto o último de 2007. Apesar de ser uma simples contagem temporal, uma simples imposição de calendário, que nada muda, senão o papel impresso com os dias e meses na parede, na mesa, as agendas...as agendas que empresas dão de brinde para que os funcionários se organizem bem e sejam eficientes, com a falsa impressão de que o empregador de fato quis presenteá-lo...As agendas que compramos na esperança de que dessa vez nos organizaremos e o ano talvez seja melhor e mais satisfatório do que o ano que passou. A preocupação com o tempo, com a idade, com as datas, horários, compromissos, aniversários, dias livres, descompromissados e sem ter o que fazer. Preocupação de não utilizar o tempo livre, de perder tempo, de desperdiçar. Incapacidade de simplesmente descansar e aproveitar o nada.
Mas até a comunicação interna falha. Confusão do que pensamos, sentimos, queremos, desejamos. Necessidade de fazer, evitar sentir, esquecer que se quer, evitar desejar. Falta de paciência e de tranqüilidade para aguardar, encaminhar e seguir os planos, cujos resultados não são imediatos, demoram, e vários dias, semanas, meses podem passar até que finalmente possa se aproveitar o que há tanto se anseia.
Comunicação. Mensagem. Enviada e recebida. Escrita e lida. Falada e ouvida. Gesticulada e vista. Interpretação e compreensão. As pessoas falham ao se expressar, as pessoas falham em entender. Falam quando deveriam se calar, e perdem as palavras quando mais precisam ser ouvidas.
Uma cadeia de palavras mal ditas, um turbilhão de idéias mal interpretadas. Um desentendimento, um erro, uma impressão que não deveria ter existido. Uma resposta ríspida, pré-conceituosa, cujo locutor julga ser certa, julga ter razão, e afirma que o receptor é quem julga. As pessoas sempre julgam, até mesmo quando acreditam em sua própria neutralidade. Mas as pessoas sempre julgam, mesmo quando se calam, e apenas olham.
A comunicação é um problema. O problema não é apenas linguístico, embora nossa literatura tenha ótimos exemplos de tais casos. Mas o problema também está na pressa, no pensar sem pensar, na avalanche de idéias, no enrolar da língua, na preguiça de refletir, no descuido do modo como se expressa.
Em 2008, desejo falar e ouvir menos bobagem.
Que os amigos, os que ainda restam, saibam quando calar-se, e quando fazer calar. Saibam quando abraçar, segurar as mãos, e permanecer em silêncio. Dar tempo aos pensamentos, aos questionamentos, ao nascimento das idéias.
Que nos próximos 365 dias das agendas e calendários, eu me lembre de todas as palavras que escrevi hoje, reflita, conteste, melhore, reformule e pratique.
Tentarei fazer de 2008 meu ano de comunicação, para mim mesma, mas desejando não ser a única a tentar.
Feliz Ano Novo a quem chegou até aqui.

Ah, e como minha comunicação também sempre se deu pela música, vou incluir um trecho que tem estado constantemente na minha cabeça:

"The more we wait for things to change
The more they stay the same
And the more they stay the same
We change"

PS: Foda-se. (Porque algumas coisas nunca mudam)

Um comentário:

Unknown disse...

Olha só. Eu li tudo acho que no mesmo dia que voce escreveu. Concordo contigo, apesar de achar que a gente nunca vai parar de falar/ouvir merda. Faz parte do nosso processo evolutivo. As vezes posso julgar que o que estou falando nao é merda, e pra ti pode ser, ou depois eu mesmo, num momento de reflexão perceber que realmente é.
Enfim, o que a gente tem é que saber relevar as vezes, tentar entender a situação do emissor, sacar porquê ele falou isso desse jeito.
Acho que no fundo vale mais a gente ouvir algumas merdas, do que viver no silêncio.
O silêncio, particularmente pra mim, incomoda bem mais.
Bjs aí e tenha um excelente início de ano, Gaboo.